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terça-feira, 12 de agosto de 2008

Villa-Lobos - Festival 1975

Villa-Lobos com Lucília e o pianista espanhol Tomás Terán segurando
a pipa gigante que eles mesmos construíram - Lussac-Le-Château - 1927


01 Erosão (Lenda Ameríndia nº1 - Origem do Rio Amazonas)


02 Papagaio do Moleque (Episódio Sinfônico)

Orquestra Sinfônica Brasileira
Sergio Magnani, regente

Gravado ao vio no Festival Villa-Lobos de 1975, na Sala Cecília Meireles
MEC/MVL/DAC/PAC - 015/1975

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(...)

EROSÃO, (SORIMAO U IPIRUNGÁUA), poema sinfônico, inspira-se numa lenda amazônica recolhida por Barbosa Rodrigues, que representa o cataclisma do vale do Amazonas e a elevação dos Andes. A partitura tem fisionomia própria, o que ocorre por conta dos poderes de invenção sempre férteis do compositor. Mas a orquestração é tipicamente de Villa-Lobos. Há uma orquestra Villa-Lobos com traços característicos cujas cores nos são familiares e que, dentro da atmosfera peculiar de EROSÃO, se apresenta aqui novamente a nossos ouvidos. É o sinfonismo de Villa-Lobos, um dos aspectos mais importantes do seu gênio.

O adagio que inicia a partitura, com os trêmulos das cordas e os leves detalhes do tímpano e das harpas, cria uma ambiência de mistério primitivo. É magistral o adensamento progressivo das sonoridades sinfônicas e o poder descritivo que assume essa música, de essência cósmica, de sugerir um munido em gestação.


Há em tudo uma gravidade lenta, até que encontramos um poco animato com o desenho em semicolcheias dos arcos. E entre os instrumentos da orquestra tem ação relevante o piano, presente aliás desde o início, contribuindo para esse movimento ágil, que cede para a apresentação de um tema coral nos metais, por graus cromáticos descendentes. A parte final, quase allegretto é graciosa, alígera e aqui principalmente se destaca a riqueza de combinações rítmicas que toda a partitura ostenta. EROSÃO data de 1950 e é dedicada a LOUISVILLE ORCHESTRA.


O PAPAGAIO DO MOLEQUE, episódio sinfônico, tem argumento do próprio Villa-Lobos, que nos fala de um garoto negrinho que se diverte a soltar seu belo papagaio colorido e fascinante sob o sol. Essas evoluções aéreas são sugeridas em duas flautas e nos arcos, mas logo um incisivo tema folclórico vem exposto em solo de flautim e nos violinos. O próprio Villa-Lobos, no seu programa, alude a um aspecto pitoresco da partitura: um piano, que executa uma delicada valsa lenta. A escritura sinfônica vai se adensando e a partitura constitui, a despeito da singeleza do motivo inspirador, uma das mais importantes obras que, no gênero, Villa-Lobos nos lega. Há por toda a parte, motivos de surpresa, no que se refere a combinações tímbricas e ao aprofundamento súbito do pensamento do mestre.


Eurico Nogueira França

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