Mal pude acreditar quando encontrei esses oito arquivos de gravações de 1912 (sim, 100 anos!), com Ernesto Nazareth e Pedro de Alcântara, para a Casa Edson, e desses quatro solos de piano de Ernesto para o selo Odeon. Para mim, não parece haver dúvidas de que seja o mesmo pianista nas duas gravações. Se é Nazareth, bem... acreditemos que seja. Note-se que na gravação de "Favorito", pelos 2:16, quando termina a primeira parte da volta à seção A, Alcântara começa a repeti-la mas tem que mudar o rumo porque Nazareth começa a repetir a seção B antes de acabar, ficando a forma assim: AA'BB'ACC'ABB'AA'... É isso?
Gravações para "Discos da Casa Edson" Rio de Janeiro:
01 - Odeon (E. Nazareth)
02 - Favorito (E. Nazareth)
03 - Linguagem do coração (Joaquim Callado)
04 - Choro e poesia (Alcântara, Napoleão e Catulo)
Ernesto Nazareth, piano
Pedro de Alcântara, flautim
Gravações de 1930 para Odeon
05 - Nenê
06 - Turuna
07 - Apanhei-te cavaquinho
08 - Escovado
Ernesto Nazareth, piano
É hábito classificar Nazareth na categoria de compositor popular. Contudo, a análise de sua obra desmente o estabelecido. Qual seria então a causa da insistência?
Será decorrência da popularidade que alcançou? Não o cremos, pois popularidade não implica que o autor tenha sido compositor popular. Bastaria pensar em Schubert. [...] Poder-se-ia pensar no nome das danças: tangos, valsas, polcas, sambas, scottisches, quadrilhas. Mas o que dizer das danças estilizadas de compositores do Barroco? [...] Ou, quem sabe, limitações formais, falta de domínio da técnica de composição, vulgaridade, como em numerosos compositores amadores da época? Mas também neste terreno não se pode localizar uma possível resposta à indagação. Nazareth conhecia seu "métier" e dominava seu instrumento: o piano.
Temos a impressão de que a causa de resistência à classificação de Nazareth como compositor erudito está simplesmente nisto: ele não fez outra coisa senão música brasileira, mais especificamente carioca, em boa parte de sua obra. [...]
Em relação a Nazareth temos a opinião categórica de Darius Milhaud [...]: "É de lamentar que os trabalhos dos compositores brasileiros desde as obras sinfônicas ou de música de câmara, [...] sejam um reflexo das diferentes fases que se sucederam na Europa, de Brahms a Debussy, e que o elemento nacional não seja expresso de uma maneira mais viva e mais original. [...] Seria de desejar que os músicos brasileiros compreendessem a importância dos compositores de tangos, de maxixes, de sambas e de cateretês como Tupinambá ou o genial Nazareth".
Nazareth partiu do substrato popular e do estudo de compositores europeus, sobretudo Chopin. Não pôde viajar à Europa como seus renomados contemporâneos. [...} Nazareth não foi compositor popular. Suas obras são demasiadamente elaboradas. Corrigia-as meticulosamente. Não fazia música para o consumo imediato em bailes, festas, carnaval, boates. Não obstante, o povo, melhor, a alma popular, está presente em suas peças para piano. Diríamos que Nazareth conseguiu captar, em termos de alta criação artística, a essência de certos aspectos da alma popular, apesar do caráter erudito de sua obra. [...]
A obra de Nazareth exerceu notável influência na criação musical de numerosos compositores brasileiros do século XX. Sua música não tem, é certo, a envergadura da de Villa-Lobos. Seu campo expressivo é mais restrito. Dentro de seu âmbito, porém, dificilmente poderá ser superada e boa parte de suas composições têm um lugar definitivo na Música Brasileira. [...] Nazareth e Nepomuceno são verdadeiramente os fundadores da música erudita brasileira.
KIEFER, Bruno. História da música Brasileira. Porto Alegre, Movimento, 1977, p. 118-126
4 comentários:
Lindo post!Obrigado por disponibilizar,estava atrás dessas gravações.
De nada, Nicols!
Grato pelo elogio
Muito obrigada. Maravilhoso esse blog....Parabéns !!!
abraços,
déia
Eu é que agradeço Déia, teus comentários são incentivos pra nosso trabalho!
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