Sonata nº1 para piano
01 I. Andante
02 II. Seresta (Homenagem a Villa-Lobos)
03 III. Variações e Presto
Miguel Proença, piano
Sonata nº2 para piano
04 I. Allegro
05 II. Andantino, Moderato e Con Motto
06 III. Vivace Molto e Con Spirito
Laís de Souza Brasil, piano
Sonata para piano a quatro mãos
07 Moderato
Miguel Proença e Laís de Souza Brasil, piano
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Krieger e as Sonatas para piano
As Sonatas para Piano, de Edino Krieger — que recebem neste LP o seu primeiro registro fonográfico — foram compostas na década 50, época em que o compositor produziu também o Quarteto para Cordas nº1 e a Brasiliana (para viola e cordas).
Impregnadas de atmosfera modal, quanto à sua essência melódico-harmônica, essas obras trazem reminiscências do período em que Krieger viveu nos Estados Unidos (1948-49), estudando com Aaron Copland (no Festival de Tanglewood) e Peter Menin (na Juilliard School of Music, de Nova Iorque). Pertencem a uma fase marcada pela presença de elementos temáticos de caráter nativista, dentro de um traçado formal tradicionalista. No período anterior, predominavam técnicas e linguagem vanguardistas, e um culto sistemático das formas sintéticas e miniaturistas.
A Sonata nº1 foi escrita no Rio de Janeiro, entre dezembro de 1953 e maio de 1954. Já no primeiro movimento — Andante – Allegro energico — desponta o clima modal da partitura, ao lado do emprego constante de quartas e quintas justas e dos desenhos uníssonos em dobramentos de oitava. Poulenc, Prokofiev e o próprio Aaron Copland podem ser apontados como fontes de influência para o discurso musical do autor.
O segundo tempo — Seresta — já existia antes como peça isolada, trazendo no subtítulo a menção “Homenagem a Villa-Lobos”. Trata-se de um texto em que convivem simplicidade melódica e vigor pianístico, mesclando-se a ambientação modal com características mais determinantes da música brasileira de caráter urbano.
O movimento final — Variações e Presto — inicia-se com um tema lento e expressivo, exposto em linguagem transparente. A 1ª variação (Moderato) tem caráter rítmico: o autor propõe uma nova figuração para o desenho temático (melodicamente um terço acima), usando com abundância pausas e deslocamentos de acentos. A 2ª variação (Andantino) fixa-se no aspecto melódico, começando pela exposição do tema em movimento contrário. A 3ª variação apresenta o motivo central com os valores ampliados, em contraponto com belos comentários de sabor seresteiro. A quarta — e última — variação é um Allegro scherzando de feição rítmica e virtuosística.
O Presto conclusivo fecha a Sonata em atmosfera burlesca, tipicamente brasileira: o desenho principal sugere com nitidez um frevo nordestino.
O Presto conclusivo fecha a Sonata em atmosfera burlesca, tipicamente brasileira: o desenho principal sugere com nitidez um frevo nordestino.
É importante ressaltar que a Sonata nº1 foi, 1959, adaptada pelo autor para orquestra de cordas, recebendo, na nova versão, o título de Divertimento para Cordas, obra que obteve o 1º Prêmio no concurso “Música e Músicos do Brasil” da Rádio MEC.
Estreada no Rio, em 1959, pelo pianista Homero Magalhães, a Sonata nº2 foi composta três anos antes, em abril de 1956, quando Krieger se aperfeiçoava em Londres, com Lennox Berkeley. A obra mantém o clima melódico-harmônico da sonata anterior, desenvolvendo-se igualmente em três movimentos.
O primeiro movimento — Allegro — apresenta acélula temática inicial em oitavas dobradas, prosseguindo em seguida na textura modal peculiar e impregnando o discurso pianístico de cristalinos trinados, procedimento que — um ano mais tarde — o autor conservaria em sua conhecida Sonatina.
O segundo movimento — Andantino — traz sugestões nordestinas com sutil tratamento harmônico, remetendo-nos ao despojamento e ao savoir-faire dos Andantes de Guarnieri. O texto caminha para um adensamento da linguagem pianística, retornando em seguida à amena beleza do clima inicial.
O tempo final — Vivace molto e com spirito — tem o caráter de uma Tocata, alternando células de acordes de quinta justas com sinuosos desenhos de oitavas dobradas. A conclusão é brilhante e virtuosística.
Primeira obra dessa série, a Sonata para Piano a Quatro Mãos foi criada em 1953, surgindo inicialmente como um Rondon-Fantasia, dedicado a Jeanette e Heitor Alimonda. Krieger posteriormente ampliou a partitura e rebatizou-a de Sonata, tornando o final pianisticamente mais eloqüente.
O autor conservou, porém, a estrutura de um único movimento de caráter monotemático: o expressivo motivo principal aparece variado no decorrer da peça, com as características essenciais do décor modal, límpidos trinados e transparentes texturas.
Em 1971, a Sonata para Piano a Quatro Mãos foi editada pela Peer International (Nova Iorque/Hamburgo).
Ronaldo Miranda
5 comentários:
Parabéns pelo blogue! Trata-se de um verdadeiro tesouro musical.
Abraços,
André
Links are dead - links estão mortos.
Edino Krieger deve ser valorizado!
Yes!! Muito obrigado!
Não tenho palavras pra descrever esse disco. Essa luminosidade, esse gingado, essa alegria brasileiríssimos torna esse disco um dos mais inesquecíveis que já tive oportunidade de ouvir. Muito obrigado!
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