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terça-feira, 21 de fevereiro de 2012

Ernesto Nazareth por... ele mesmo!


Mal pude acreditar quando encontrei esses oito arquivos de gravações de 1912 (sim, 100 anos!), com Ernesto Nazareth e Pedro de Alcântara, para a Casa Edson, e desses quatro solos de piano de Ernesto para o selo Odeon. Para mim, não parece haver dúvidas de que seja o mesmo pianista nas duas gravações. Se é Nazareth, bem... acreditemos que seja.  Note-se que na gravação de "Favorito", pelos 2:16, quando termina a primeira parte da volta à seção A, Alcântara começa a repeti-la mas tem que mudar o rumo porque Nazareth começa a repetir a seção B antes de acabar, ficando a forma assim: AA'BB'ACC'ABB'AA'... É isso?

Gravações para "Discos da Casa Edson" Rio de Janeiro:

01 - Odeon (E. Nazareth)
02 - Favorito (E. Nazareth)
03 - Linguagem do coração (Joaquim Callado)
04 - Choro e poesia (Alcântara, Napoleão e Catulo)

Ernesto Nazareth, piano
Pedro de Alcântara, flautim

Gravações de 1930 para Odeon
05 - Nenê
06 - Turuna
07 - Apanhei-te cavaquinho
08 - Escovado

Ernesto Nazareth, piano


É hábito classificar Nazareth na categoria de compositor popular. Contudo, a análise de sua obra desmente o estabelecido. Qual seria então a causa da insistência?
Será decorrência da popularidade que alcançou? Não o cremos, pois popularidade não implica que o autor tenha sido compositor popular. Bastaria pensar em Schubert. [...] Poder-se-ia pensar no nome das danças: tangos, valsas, polcas, sambas, scottisches, quadrilhas. Mas o que dizer das danças estilizadas de compositores do Barroco? [...] Ou, quem sabe, limitações formais, falta de domínio da técnica de composição, vulgaridade, como em numerosos compositores amadores da época? Mas também neste terreno não se pode localizar uma possível resposta à indagação. Nazareth conhecia seu "métier" e dominava seu instrumento: o piano.
Temos a impressão de que a causa de resistência à classificação de Nazareth como compositor erudito está simplesmente nisto: ele não fez outra coisa senão música brasileira, mais especificamente carioca, em boa parte de sua obra. [...]
Em relação a Nazareth temos a opinião categórica de Darius Milhaud [...]: "É de lamentar que os trabalhos dos compositores brasileiros desde as obras sinfônicas ou de música de câmara, [...] sejam um reflexo das diferentes fases que se sucederam na Europa, de Brahms a Debussy, e que o elemento nacional não seja expresso de uma maneira mais viva e mais original. [...] Seria de desejar que os músicos brasileiros compreendessem a importância dos compositores de tangos, de maxixes, de sambas e de cateretês como Tupinambá ou o genial Nazareth".
Nazareth partiu do substrato popular e do estudo de compositores europeus, sobretudo Chopin. Não pôde viajar à Europa como seus renomados contemporâneos. [...} Nazareth não foi compositor popular. Suas obras são demasiadamente elaboradas. Corrigia-as meticulosamente. Não fazia música para o consumo imediato em bailes, festas, carnaval, boates. Não obstante, o povo, melhor, a alma popular, está presente em suas peças para piano. Diríamos que Nazareth conseguiu captar, em termos de alta criação artística, a essência de certos aspectos da alma popular, apesar do caráter erudito de sua obra. [...]
A obra de Nazareth exerceu notável influência na criação musical de numerosos compositores brasileiros do século XX. Sua música não tem, é certo, a envergadura da de Villa-Lobos. Seu campo expressivo é mais restrito. Dentro de seu âmbito, porém, dificilmente poderá ser superada e boa parte de suas composições têm um lugar definitivo na Música Brasileira. [...] Nazareth e Nepomuceno são verdadeiramente os fundadores da música erudita brasileira.

KIEFER, Bruno. História da música Brasileira. Porto Alegre, Movimento, 1977, p. 118-126

4 comentários:

Nicols disse...

Lindo post!Obrigado por disponibilizar,estava atrás dessas gravações.

G. Tadeu disse...

De nada, Nicols!
Grato pelo elogio

deia disse...

Muito obrigada. Maravilhoso esse blog....Parabéns !!!

abraços,

déia

G. Tadeu disse...

Eu é que agradeço Déia, teus comentários são incentivos pra nosso trabalho!

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